A resposta simples para essa pergunta é que as pessoas jogam videogames porque eles são divertidos. Mas o que pouca gente sabe é que os jogos não são divertidos por natureza, eles são projetados propositadamente para serem divertidos. Para isso existe um profissional chamado de game designer que, dentre outras matérias, estuda psicologia humana e neurociência, com o propósito de tornar os jogos que ele projeta o mais atrativo possível para as pessoas.
Embora o fenômeno dos videogames pareça recente, a presença dos jogos na cultura humana remonta à Idade da Pedra, e os estudos sistemático sobre o assunto tomou corpo no início do século passado. A partir de então, projetar jogos deixou de ser apenas uma arte e passou a ser uma ciência. Isso mesmo, existem diversos trabalhos científicos que tratam especificamente do tema, pesquisando e orientando os profissionais da área sobre como fazer jogos cada vez mais divertidos a engajantes.
O resultado deste trabalho é que, cada vez mais, um número cada vez maior de pessoas joga videogames por mais tempo. Em 2012 a escritora Jane McGonigal afirmou que, aos 21 anos de idade, enquanto um jovem médio norte-americano passa entre 2.000 a 3.000 horas lendo livros, ele investe mais de 10.000 horas em jogos eletrônicos, o mesmo tempo que ele passaria em sala de aula, desde o início da quinta série até o final de sua graduação universitária.
Um dos pioneiros no estudo do game design, Chris Crawford defende que os jogos são uma parte fundamental da existência humana, enquanto que a sua popularização provocou uma repercussão contrária a eles, alegando serem eles os responsáveis pela evasão escolar, o surgimento de grupos de adolescentes turbulentos, e a crença de que eles são uma perda de tempo. McGonigal explica que o problema é que poucas pessoas se interessam em saber porque os jogos são tão envolventes, ou em descobrir as potencialidades que eles trazem, pois existem pessoas que “nunca pegarão um livro sobre jogos, pois estão plenamente convencidas para o que eles servem – desperdiçar tempo, ausentar-se e sair perdendo na vida real”. Já em 1939 o filósofo holandês Johan Huizinga se queixava da pouca atenção prestada pelas ciências humanas ao conceito de jogo e à importância fundamental do fator lúdico para a civilização.
Desta forma, ao contrário de se preocupar com os possíveis efeitos negativos que os jogos possam acarretar para as pessoas, e de se acreditar ingenuamente que eles são divertidos e engajantes por natureza, as ciências humanas poderiam estudar um pouco mais sobre seus efeitos positivos, sua potencialidade e, principalmente, como os game designers são capazes de projetar experiências tão envolventes, que atraem tantas pessoas, e consegue engajá-las por tanto tempo. Há um mundo de oportunidades muito pouco exploradas nessa área!
REFERÊNCIAS
Crawford, C. (1984). The art of computer game design. 1984. Editora McGraw-Hill.
Huizinga, J. (2000). Homo ludens. Editora Perspectiva.
McGonigal, J. (2012). A realidade em jogo. Editora Best Seller.