Precisamos falar sobre o ensino remoto


Cesar Barbado

As medidas de proteção contra a pandemia, de uma hora pra outra, tiraram milhões de crianças das salas de aula, e colocaram os professores em uma situação completamente nova para a maioria deles, a educação remota.

Vivemos um momento em que é muito comum a naturalização de fenômenos que na verdade foram construídos social e historicamente. O que isso tem a ver com o nosso assunto? É que embora a gente acredite que as escolas sempre foram como são hoje, com salas de alunos seriadas por idade, esse modelo de ensino é muito recente na história humana.

A cerca de duzentos anos a educação, gradativamente, foi deixando de ser vista como uma obrigação das famílias e da comunidade para ser uma obrigação do estado. Foi então que o governo criou a escola como conhecemos hoje, em classes com vários alunos da mesma idade, com o propósito de reduzir os seus custos com a educação. Como, ao longo de toda nossa vida, nós só conhecemos esse modelo, acreditamos que essa é a forma natural de aprender, quando na verdade não é.

Veja bem, isso não significa que a educação presencial na escola não seja importante, mas é importante sabermos que essa não é a única forma de ensino possível, nem tampouco a melhor delas. É sim, a maneira mais eficiente que a nossa sociedade encontrou, diante do contexto em que ela estava inserida na época. A questão é que esse contexto muda constantemente, e a educação precisa se adaptar a essas novas realidades. O problema é que, com a pandemia, essa mudança aconteceu de forma muito abrupta e pegou todos nós despreparados.

Outro ponto importante é esse “todos nós”. Atualmente a maioria das pessoas acredita que a escola é naturalmente a responsável pela educação, quando na verdade essa responsabilidade é também das famílias e da sociedade. Como visto anteriormente, a escola foi colocada nessa posição por questões sociais e históricas. Não é justo que, nesse momento em que a escola mais precisa da nossa ajuda, ela seja cobrada por uma responsabilidade que também é nossa.

Da mesma forma, o ensino remoto não é o vilão da história, tão pouco ele é ineficiente por si próprio. O ensino remoto está sendo ineficiente porque estamos tentando aprender como fazê-lo da noite para o dia e, pior ainda, delegando essa responsabilidade exclusivamente para os educadores e as escolas. Por mais que eles estejam se esforçando, eles foram pegos tão de surpresa quanto toda a sociedade. É preciso que das famílias e a sociedade se unam a eles, para repensar e reconstruir um novo modo de ensino mais adequado à realidade que estamos vivendo. Afinal, a educação é responsabilidade de todos nós, escola, professores, alunos, família, governo e sociedade em geral.

O mundo mudou, não só por causa da pandemia. A tecnologia nos oferece uma infinidade de meios alternativos ao modelo massivo de educação, e que estão sendo subutilizados. É o uso limitado e muitas vezes inadequado da tecnologia pela educação a causa do tédio e da exaustão física e mental de alunos e professores. Precisamos democratizar o acesso à essas tecnologias e aprender a usá-las de uma forma mais adequada, que explore todo o potencial que elas oferecem para a educação.

É preciso repensar a educação como um todo neste novo contexto, e toda a sociedade precisa assumir sua responsabilidade, parar de criticar e cobrar as escolas como se não fôssemos parte da solução. Cada um de nós deve se questionar o que pode fazer para melhorar a nossa educação nesse momento tão difícil. Se não fizermos isso, seremos parte do problema. Nem as escolas, nem as crianças merecem isso de nós.

REFERÊNCIAS

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

CUNHA, Leonardo Ferreira Farias da; SILVA, Alcineia de Souza; SILVA, Aurênio Pereira da. O ensino remoto no Brasil em tempos de pandemia: diálogos acerca da qualidade e do direito e acesso à educação. 2020.

EDUCAÇÃO, Todos Pela. Ensino a distância na Educação Básica frente à pandemia da Covid-19. Nota Técnica, 2020.

DE SOUSA OLIVEIRA, Eleilde et al. A educação a distância (EaD) e os novos caminhos da educação após a pandemia ocasionada pela Covid-19. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 7, p. 52860-52867, 2020.

MARTINS, Vivian; ALMEIDA, Joelma. Educação em Tempos de Pandemia no Brasil: Saberesfazeres escolares em exposição nas redes. Revista Docência e Cibercultura, v. 4, n. 2, p. 215-224, 2020.