As medidas de proteção contra a pandemia, de uma hora pra outra, tiraram milhões de crianças das salas de aula, e colocaram os professores em uma situação completamente nova para a maioria deles, a educação remota.
Vivemos um momento em que é muito comum a naturalização de fenômenos que na verdade foram construídos social e historicamente. O que isso tem a ver com o nosso assunto? É que embora a gente acredite que as escolas sempre foram como são hoje, com salas de alunos seriadas por idade, esse modelo de ensino é muito recente na história humana.
A cerca de duzentos anos a educação, gradativamente, foi deixando de ser vista como uma obrigação das famílias e da comunidade para ser uma obrigação do estado. Foi então que o governo criou a escola como conhecemos hoje, em classes com vários alunos da mesma idade, com o propósito de reduzir os seus custos com a educação. Como, ao longo de toda nossa vida, nós só conhecemos esse modelo, acreditamos que essa é a forma natural de aprender, quando na verdade não é.
Veja bem, isso não significa que a educação presencial na escola não seja importante, mas é importante sabermos que essa não é a única forma de ensino possível, nem tampouco a melhor delas. É sim, a maneira mais eficiente que a nossa sociedade encontrou, diante do contexto em que ela estava inserida na época. A questão é que esse contexto muda constantemente, e a educação precisa se adaptar a essas novas realidades. O problema é que, com a pandemia, essa mudança aconteceu de forma muito abrupta e pegou todos nós despreparados.
Outro ponto importante é esse “todos nós”. Atualmente a maioria das pessoas acredita que a escola é naturalmente a responsável pela educação, quando na verdade essa responsabilidade é também das famílias e da sociedade. Como visto anteriormente, a escola foi colocada nessa posição por questões sociais e históricas. Não é justo que, nesse momento em que a escola mais precisa da nossa ajuda, ela seja cobrada por uma responsabilidade que também é nossa.
Da mesma forma, o ensino remoto não é o vilão da história, tão pouco ele é ineficiente por si próprio. O ensino remoto está sendo ineficiente porque estamos tentando aprender como fazê-lo da noite para o dia e, pior ainda, delegando essa responsabilidade exclusivamente para os educadores e as escolas. Por mais que eles estejam se esforçando, eles foram pegos tão de surpresa quanto toda a sociedade. É preciso que das famílias e a sociedade se unam a eles, para repensar e reconstruir um novo modo de ensino mais adequado à realidade que estamos vivendo. Afinal, a educação é responsabilidade de todos nós, escola, professores, alunos, família, governo e sociedade em geral.
O mundo mudou, não só por causa da pandemia. A tecnologia nos oferece uma infinidade de meios alternativos ao modelo massivo de educação, e que estão sendo subutilizados. É o uso limitado e muitas vezes inadequado da tecnologia pela educação a causa do tédio e da exaustão física e mental de alunos e professores. Precisamos democratizar o acesso à essas tecnologias e aprender a usá-las de uma forma mais adequada, que explore todo o potencial que elas oferecem para a educação.
É preciso repensar a educação como um todo neste novo contexto, e toda a sociedade precisa assumir sua responsabilidade, parar de criticar e cobrar as escolas como se não fôssemos parte da solução. Cada um de nós deve se questionar o que pode fazer para melhorar a nossa educação nesse momento tão difícil. Se não fizermos isso, seremos parte do problema. Nem as escolas, nem as crianças merecem isso de nós.
REFERÊNCIAS
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CUNHA, Leonardo Ferreira Farias da; SILVA, Alcineia de Souza; SILVA, Aurênio Pereira da. O ensino remoto no Brasil em tempos de pandemia: diálogos acerca da qualidade e do direito e acesso à educação. 2020.
EDUCAÇÃO, Todos Pela. Ensino a distância na Educação Básica frente à pandemia da Covid-19. Nota Técnica, 2020.
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MARTINS, Vivian; ALMEIDA, Joelma. Educação em Tempos de Pandemia no Brasil: Saberesfazeres escolares em exposição nas redes. Revista Docência e Cibercultura, v. 4, n. 2, p. 215-224, 2020.