Pequenas reflexões sobre a importância do estudo dos processos de morrer


Victor Damborowiski

A pandemia da Covid-19, tem mudado drasticamente as dinâmicas familiares de entendimento da morte e seus processos. Talvez, nunca na história recente da mídia digital ou tradicional ficou tão claro como a saúde e a vida humana são frágeis, e como a morte pode estar literalmente ao seu lado (logicamente que antes mesmo do COVID-19, o numero de mortes já era incrivelmente alto). Falar da morte sobre um viés acadêmico pode de certa forma aliviar o sofrimento de uma parcela da população nacional.

Pesquisas na área de cuidados paliativos envolvem temas como: agravamento da doença e sintomas múltiplos e incapacitantes, transmissão de más notícias, enfrentamento da proximidade da morte, processo do luto antecipatório e o luto dos familiares. Esse tipo de pesquisa é de suma importância, pois o crescente desenvolvimento da medicina e dos hospitais provocou a transferência do lugar da morte para estas instituições.

A invenção de procedimentos de alta tecnologia como a hemodiálise trouxe novas questões sobre vida e morte. Com o desenvolvimento da tecnologia médica os hospitais tornaram-se “instituições para a cura”.

Os programas de cuidados paliativos oferecem: alternativas de tratamento menos agressivo, melhor controle de sintomas, família mais próxima dos pacientes, embora com nível maior de estresse e preocupação, custos menores; menores índices de depressão.

Estudos quantitativos podem trazer dados para o desenvolvimento da área, mas podem se tornar inviáveis se demandarem grande número de pacientes com características semelhantes. Por outro lado, pesquisas qualitativas, depoimentos, histórias de vida podem trazer de forma mais aprofundada o universo e a percepção de pessoas que estão vivendo tão próximas do fim da vida.

Outra área importante de trabalho e de pesquisa nos estudos sobre a morte é a formação e preparação de profissionais de saúde para lidar com pacientes com doença grave e seus familiares. Pesquisas apontam como profissionais lidam com a morte, seus índices de ansiedade, medo e de que modo enfrentam a situação.

Dentre as dificuldades relatadas, as mais comuns são: como falar com pacientes sobre o agravamento da doença e a possibilidade da morte, como realizar os procedimentos usuais em pacientes sem prognóstico de cura e a sensação de impotência que estas situações provocam. Por conta dessa demanda, é importante ministrar cursos sobre a morte e o morrer para estes profissionais, trazendo a possibilidade do autoconhecimento e a capacitação para lidar com pacientes próximos à morte.

REFERÊNCIAS

Kovács, M. J.; Desenvolvimento da Tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer; São Paulo-SP, Brasil; Paidéia, 2008, 18(41), 457-468